Era tudo real e eu sabia que não podia ser, eu estava dormindo, eu estava sonhando e aquilo tudo não fazia o menor sentido pra minha mente, aquela parte racional dela pelo menos não estava aceitando. E não era nada de assombroso ou inacreditavel, mas era inverossímel que estivesse aconrecendo daquela forma, naquele lugar, naquela hora. Estavam se sucedendo uma cadeia de acontecimentos dos quais eu não tinha domínio nem poder para impedi-los de acontecer, daquela forma, naquela intensidade e daquela maneira. Tentei em vão acordar para tentar por um fim em tudo aquilo e não consegui, por isso achei poder estar acordado e tudo aquilo estar realmente acontecendo. Eu estava vendo um coração se esvaindo, acabando o amor que ele tinha, acabando tudo que ele sentia sem que ninguém, nem mesmo eu, pudesse ou conseguisse fazer com que aquele vazamento, parasse de despejar todo um estoque de sentimentos acumulados durante anos de vida. Era angustiante ver o sofrimento de tal coração. Ele sofria, mas não era um sofrimento que eu pudesse definir como o pior que eu já tenha visto ou vivido em toda a minha vida. Sim! Era um sofrimento de perda! Mas parece que o coração por mais que eu me preocupasse com ele estava tranquilo, sem muita intensidade no seu gestual, nem em seus longos olhares no interior do infinito saber da mãe terra. Resolvi não mais ficar prostrado observando seu sofrimento, a pergunta, dilacerando meu peito de menino, não conseguiu se calar, frente-a-frente com a dor assumida e resignada até então: "Por quê tanto sofrer coração?" "Porque pra podermos amar temos que ter vazios nossos espaços, nossos interiores. Só assim a dádiva de novos sentimentos poderão habitar sua vida inteira sem que seja necessário dividir com aquilo que já não mais era para estar aqui. Por isso sofro sem alarde, sem pranto ou mágoa. Sei que esta pra chegar outro sentimento, que novamente vai me locupletar. De forma que o amor em mim não vai cessar. Estou me preparando pra um novo recomeço." Segui o meu caminho, hoje sabendo que o sofrimento de um coração nunca é o mesmo que experimentamos em nossas mentes possessivamente cruéis, é um sofrimento de reconstrução, de arrumação da casa, para que um novo sentimento possa habita-la, sem que a presença do outro, que ali morou, possa interferir nessa nova jornada.